Tuesday, January 16, 2007

Sou eu!

Não era assim quando nasci. Ouvi tiros de demência. Ouvi palavras que deram grades. Disse-as. E ainda hoje as digo. Mas posso estar na mesa de café com os meus cigarros. Posso ler o meu jornal e rir do sem sentido. Sou pela vida vivida. E não me importo que o do lado aplauda o que me choca. Opiniões. Sou pelas opiniões. Pela diferença.
Quando nasci não se escutava a voz da diferença. Simplesmente era apagada. Quando nasci, era diferente. Acreditava-se que a mutilação do corpo mudava a alma. Lembro-me bem de que mudava a voz. Mas a alma? Não me recordo. Não sei de tal feito.
Mas quando nasci, o que para mim podia ser abismo, para outros era a salvação. Já nessa altura. E por isso digo: acabem com as grades para quem escolhe outro caminho! Gritem aos céus "O Corpo é Meu"! Digam: Para mim, sou eu!

Varanda

Ao ollhar pela janela, passa o comboio, vem à varanda a doméstica. Traz o lixo, a roupa para secar, lenço à cabeça e o som do comboio nos ouvidos- txuca-txuca txuca-txuca txuca-txuca - e, mesmo assim, irradia concentração na sua tarefa. Deita o lixo no caixote, beatas do senhor, que fuma no cadeirão, em paz, lendo. Deita os restos das curas das maleitas da minha senhora, que foi às compras, mas não pode das costas e não pode carregar os mais leve dos pesos pesados. Lenço na cabeça, canto sussurado e mãozinha de fora, lá vai disto, papelinho pela varanda. Vergonhoso...
Não mais vi. A nublina do tempo abateu-se sobre a minha janela. Resta-me o tempo.

Monday, December 25, 2006

Nu e Livre

Durmo...Tropeço na almofada na corrida do sonho. Desço a montanha improvisada dos lençóis. A mão que nos pega e nos transporta há muito que me pousou. Daqui a pouco virá para me levar de novo ao chão. Até à efémera realidade.
Queria ficar aqui. Onde me sinto mais eu. Nu. Livre de movimentos. Livre de pensamentos. Deixem-me cair livremente no vão, no inútil e no sem sentido. É essa a minha casa. Que a mão vá para o bolso!

Thursday, December 7, 2006

Música

Ouvem a música? Que paz. Olhar para cada palavra de uma letra de uma canção, enquanto a música se entrenha(desconfio que ela já sabe que minutos depois vai ser cantarolada, estilo infantil). Disfrutar, nem que sejam 3 minutos, de boa música, é revitalizante. Pelo menos deveria ser. Há aqueles que a veêm como algo complexo de ouvir. Cansam-se e disfrutam pouco. Escolhem picar-se no espinho em vez de cheirar a rosa. Eu, quando toca ao lirismo e à musicalidade, escolho o olfacto.

Wednesday, December 6, 2006

Cabra-Cega

Não o posso evitar. Desde pequeno que vejo o Mundo como um lugar belo e magistoso. É fatal ver tudo o que há de belo, mesmo nos momentos mais infâmes. A beleza é tão vasta. É um conceito tão facilmente aplicável a tudo o que nos rodeia. Às vezes não o queremos ver. Chamem-me sonhador. Chamem-me despreocupado. Chamem-me egoísta (pensar em mim é também ver os outros). Todos temos as nossas preocupações. As prioridades são diferentes. As ideologias também. Mas a harmonia deve ser conjunta. De que serve todos sermos Deuses, se no fim as trancendências nos levam de novo à casa de partida? De que nos serve ver mais além, se para jogarmos à vida pomos vendas uns aos outros? Não podemos ganhar assim. Só ainda não estamos fora porque, na realidade, o Mundo é maravilhoso. E concede oportunidades e oportunidades para o vermos, e para aprendermos a jogar à vida.
Se ao menos fosse a cabra-cega...

Tuesday, December 5, 2006

O Mundo é demasiado.

O Mundo é tão bonito (é demasiado para passarmos por ele sem o ver). O Mundo tem a vida, tem o amor, tem a cor, a alegria, o som, a paz. O beijo. Tem raças, tamanhos e feitios, mas, no fundo, tem apenas o Homem a viver, sonhar e sentir.
Mas o Mundo é tão feio. Tem bombas, tiros e culatras. Tem desfeitas. E tem o fundo.
Todavia, no balanço, o que fica é a pureza, a beleza e o erotismo de cada gesto e de cada momento.